25.10.07

Os erros dos fortes fazem a glória dos fracos


James D. Watson, nome "artístico", ou Jim para os amigos conseguiu chegar aos 79 anos com uma aura em volta da cabeça. Porém, algumas poucas palavras a um meio de comunicação londrino, foram suficientes, para a aura ser substituida pelos cornos do demónio. A própria instituição, Cold spring harbor laboratory, que ele ajudou a crescer, e que veio transformando num laboratório de renome internacional desde há 40 anos, distanciou-se deste, ao primeiro sinal de mudança de maré. Se fosse em Portugal, não seria surpreendente, afinal este é o modus operandi das instituições. Mas vindo de um país onde as instituições sólidas ficam e as pessoas passam, onde o mérito é recompensado e não têm por hábito fazer estátuas a mortos, surpreendeu-me.
Porque será que ele disse o que disse? Será que não se fez entender? Será que o jornalista não poderia ter esperado para dar o golpe de misericórdia, a uma pessoa de 79 anos. Eu sei, o racismo é crime, ou melhor, é um crime hediondo! Mas será que as afirmações do Watson estão completamente erradas. Do ponto de vista genético, sim! São inteiramente despropositadas e indignas de alguém que ganhou o maior premio de ciência. Mas do ponto de vista sociológico e cultural até tem algum fundamento. De facto está demonstrado (em ciência não à provas), que os povos sub-sarianos tem menos inteligência (se é que isto se pode medir), que os europeus ou Norte Africanos. Mas atenção, esta é devido a questões sócio-económicas e culturais. E não a questões genéticas. Por exemplo, se eu comprar um carro em segunda-mão, e o carro passar o tempo avariado, eu posso dizer que o meu carro é pior que outro qualquer. Mas isto não implica que a sua concepção ou o seu motor tenha defeitos de fabrico. Implica sim, o tratamento que o anterior dono ou donos lhe deram. Quantas vezes no nosso país se fala de baixo aproveitamento escolar associado a alcoolismo e à pobreza social? Muitas!
Então custava muito o jornalista antes de o entregar ao carrasco, voltar a perguntar para tentar perceber o contexto e os objectivos daquelas afirmações? Do ponto de vista humano, não custariam nada, mas do ponto de vista monetário, claro que estas representariam um furo jornalístico tremendo. Por isso que se lixe o velho!
Custaria muito à comunidade cientifica do mundo inteiro e cá do burgo serem um pouco mais contidas no julgamento sumário do Jim, ou melhor, do colega Watson? Não senhor, seguir a onda trás mais proveitos que explicar que afinal os cientistas nem sempre são donos da razão e muito menos são pessoas perfeitas. Já não bastava que a opinião publica acerca da comunidade cientifica já tivesse sido ferida com as declarações do Doutor Watson, como ainda por cima os seus colegas ainda mostram pouca solidariedade e tolerância.
Moral da história, já nem os disparates próprios da idade esta sociedade tolera.


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